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S. Francisco ou Casanova  (# 187)

12.jan.2019
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Há curiosamente um exercício mental que nos poderá conduzir a uma clareira de esclarecimento. Basta perguntarmos o seguinte: o Homo sapiens, surgido no planeta Terra há 100 mil anos, que características apresenta para conseguir sobreviver como espécie e proliferar por todo o planeta?

Provavelmente nem excessos hedónicos, de prazer desenfreado, de comezainas de enfartar brutos, de noitadas até cair de lado, nem, por outro lado, sacrifícios desgastantes que nos fazem pagar uma fatura elevada com o passar dos anos.

Francisco de Assis tinha uma péssima opinião acerca do seu corpo. Este seria um mero invólucro para a alma. E um invólucro muito pernicioso, pois com os seus impulsos e desejos acabava por conduzir a dita alma aos caminhos do pecado e da perdição.

Uma visão completamente diferente teria provavelmente Giacomo Casanova, um aventureiro libertino que tinha fama de seduzir as mulheres e entregar-se profusamente aos prazeres do sexo desenfreado.

Ambos eram italianos, mas viveram em tempos muito diferentes. Giovanni di Pietro, mais conhecido por S. Francisco de Assis, nasceu em 1182, tendo sido canonizado pelo papa Gregório IX em 1228, apenas dois após a sua morte. Casanova, pelo contrário nasceu em 1725. Tendo sido preparado para uma carreira eclesiástica, cedo enveredou por outros caminhos. Foi preso, fugiu da prisão, viajou pela Europa, escreveu diversas obras, entre as quais as suas memórias.

Giovanni di Pietro, ficou às portas da morte, por negligenciar os cuidados mínimos ao seu corpo e foi salvo por amigos que o levaram à enfermaria de um mosteiro, onde recuperou a saúde, vivendo até aos 44 anos. Casanova, pelo contrário, entregava o seu corpo aos prazeres máximos da sedução em movimento perpétuo, teve mil aventura e viveu até aos 73 anos.

Sem defendermos a vida libertina de Giacomo, nem o ascetismo de Giovani di Pietro, perguntamos onde ficamos em termos de opções? Na verdade, atualmente, no nosso âmago, somos marcados por estas duas visões: por um lado achamos que o nosso corpo tudo deve suportar, nomeadamente as agruras dos trabalhos constantes, noites mal dormidas e a imposição de levantar cedo para trabalhar. Ou então, no fim-de-semana, borgas, altas noitadas, bons petiscos e sexo, se possível.

A referência a estes dois nomes, presentes no nosso imaginário, vem a propósito do dilema com o qual qualquer cidadão europeu e ocidental se confronta. Como cuidar do seu corpo e da sua saúde ao longo do quotidiano, nestes tempos repletos de informações confusas e contraditórias? A tradição já não é o que era, nem parece satisfazer quaisquer jovens que queiram pensar durante dois minutos sobre a sua saúde.

Imagine-se um jovem casal. Podemos chamá-los Rita e João.

Imagine-se que estão grávidos. Uma nova vida surgiu no ventre. Que opções em matéria de cuidados de saúde devem seguir? O caminho do sacrifício e do trabalho, penalizando o corpo e os cuidados básicos de saúde, à imagem de muitos santos medievais? Ou a entrega aos prazeres do fast-food, dos salgadinhos, das bolachinhas ou dos gelados?

Há curiosamente um exercício mental que nos poderá conduzir a uma clareira de esclarecimento. Basta perguntarmos o seguinte: o Homo sapiens, surgido no planeta Terra há 100 mil anos, que características apresenta para conseguir sobreviver como espécie e proliferar por todo o planeta?

– E isso… o que nos interessa a nós – perguntará a Rita olhando o João e acariciando o ventre já proeminente de seis meses de gravidez.

Minha cara Rita, meu caro João: esta é a pergunta, cuja resposta vale 1 milhão de euros!

Se percebermos que o Homo sapiens tem um conjunto de características, digamos metabólicas, que surgiram há 100 000 anos e das quais não se libertou, já que a genética leva sempre milhares de anos a evoluir, temos uma pista preciosa para darmos ao nosso corpo os cuidados que ele, no fundo, necessita.

Provavelmente nem excessos hedónicos, de prazer desenfreado, de comezainas de enfartar brutos, de noitadas até cair de lado, nem, por outro lado, sacrifícios desgastantes que nos fazem pagar uma fatura elevada com o passar dos anos.

Mas a questão continua: então onde está o mapa do tesouro para encontrar o meio-caminho?

Haja paciência e tudo se descobre…

© Eduardo Rui Alves

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