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Foto do escritorEduardo Rui Alves

Ano novo em Portugal

Atualizado: 25 de mar. de 2023



Eu diria que os partidos derrotados terão primeiro de perguntar que país é este que temos em 2022. Deixar por momentos as frases batidas, e, sem trair a sua visão ideológica, repensar o discurso e dar prioridade a aspetos que até estão inscritos no seu programa, talvez a necessitar de clarificação.

Nos últimos dias de Janeiro de 2022, a Lua estava em quarto minguante. A 1 de Fevereiro, pelas 6:49, o nosso satélite natural entra em Lua Nova e entra num novo ciclo lunar.


Para os chineses inicia-se um novo ano. Na verdade, vamos encontrar nos povos asiáticos uma estranha articulação com a Natureza e com os ciclos naturais, articulação esta patente num fascinante animismo presente em quase todas as religiões asiáticas.


A semana de 31 de janeiro a 6 de Fevereiro é uma semana de férias para a maioria dos chineses. As festividades prolongam-se aos longo de 16 dias, com comemorações por toda a China.


Na Europa, os ciclos lunares quase nos passam despercebidos, mas em Portugal, há também um novo ano que se anuncia.

Ocorreram eleições para o parlamento português a 30 de janeiro com resultados surpreendentes até para o partido vencedor. Os eleitores portugueses deram uma maioria de esquerda ao parlamento, mas uma maioria absoluta ao Partido Socialista.


O país ficou de olhos esbugalhados sem querer acreditar em si próprio.


Há dois anos, nas eleições de 2019, o Partido Socialista começou a governar com o apoio, ora dos partidos à sua esquerda, o Bloco de Esquerda (BE), o Partido Comunista (PCP) e o Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV), ora com o apoio pontual do Partido Social Democrático (PSD).


Com a não aprovação do Orçamento para 2022, o parlamento foi dissolvido e ocorreram novas eleições. E o panorama parlamentar mudou profundamente.


Há uma maioria de esquerda, com o PS, o PCP, o BE e ainda o “Livre”. Com mais de metade dos deputados socialistas, os restantes partidos têm agora o menor número de deputados desde 1975. O Pessoas Animais e Natureza viu também reduzida a sua participação parlamentar à sua líder.


À direita um antigo partido, que nasceu com a revolução de 1974, o Centro Democrático Social (CDS) desapareceu do parlamento. O PSD ficou em segundo lugar, em profunda crise existencial. Surgiu um jovem partido designado de “Iniciativa Liberal” que acredita nos valores do liberalismo económico e também numa visão menos conservadora da vida social. O grande choque para uma boa parte do país foi a subida em flecha do partido CHEGA, a versão portuguesa da extrema-direita que prolifera pela Europa.


Na noite eleitoral a televisão mostra imagens da sala de imprensa de cada partido, com os líderes a discursar, aceitado a derrota ou cantado vitória. Mas há também imagens que mostram o rosto dos militantes, ora tristes ora eufóricos. E a pergunta fica: “quem são estes portugueses?” Ou então uma pergunta que vai mais fundo, quem são os portugueses que se revêm em cada uma destes partidos?


Mas a grande pergunta que vamos ter que responder a partir de hoje, 1 de Fevereiro de 2022, 1º dia de Lua Nova, é que país somos nós, portugueses?


Num exercício de distanciamento, há que perguntar até que ponto o novo parlamento representa sociologicamente um Portugal diferente, muito diferente do Portugal de 1974, mas também um Portugal diferente no início do séc. XXI. Talvez até haja, em fevereiro de 2022, um Portugal razoavelmente diferente do país de há uma década.


A estabilidade governativa estará assegurada, o Partido Socialista estará pacificado à volta do seu líder, António Costa. O "Livre" está exuberante, com Rui Tavares, um historiador de esquerda que acredita profundamente na dinâmica de uma Europa de esquerda.


Os restantes partidos vão “fechar para balanço”, repensar estratégias, rever o seu papel no panorama político português.


Eu diria que os partidos derrotados terão primeiro de perguntar que país é este que temos em 2022. Deixar por momentos as frases batidas, e, sem trair a sua visão ideológica, repensar o discurso e dar prioridade a aspetos que até estão inscritos no seu programa, talvez a necessitar de clarificação.

Há um país diferente e não é só devido à pandemia.


Os chineses festejam um novo ano e entendem que hoje começa a Primavera.


Nós, os portugueses, devíamos encher o peito de ar, deixar as lamentações para trás e assumir que um novo ciclo se inicia neste retângulo à beira-mar.


Lua nova, é sempre um período de reflexão em silêncio. Vamos refletir e perguntar: “Que país é este que temos?”


Vamos descobrir.

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